Mitos retardam muito as evoluções humanas, em qualquer campo. A atribuição de siglas a iniciativas legítimas, de valor, é um dos fatores que contribuem para a formação de mitos e consequente marginalização dessas iniciativas. ESG é um exemplo clássico.
O mito reveste a sigla de preconceitos contra ativismo, tenta resumi-la a filantropia e diversidade, e resiste à pretensa burocratização do Compliance. A ela se atribui custos marginais, que as atividades produtivas têm que carregar como um fardo.
Muitos empresários e dirigentes ainda estão presos a esse mito, e não reciclam seus princípios em seu dia a dia. Ficam assim impedidos de perceber os valores reais envolvidos, criar convicção sobre o tema, e deixar de agir com o nariz torcido apenas por conveniência, quando demandas externas de ações e reputação desafiam.
O cuidado com o meio ambiente não é recente, é transcedental, e é uma necessidade natural. O ambiente cobra e responde. A atenção com o Social, começando pelo trato interno, é crucial desde sempre, para que as pessoas se libertem de seus anseios internos para exercer seu melhor. E a Governança, também desde sempre, minimiza os riscos do negócio.
Quando tudo isso foi sumarizado sob uma sigla, seu significado foi drasticamente reduzido, e criou uma peça que foi manipulada por uns, desacreditada por outros, oportunizada por alguns, e distorcida de modo geral.
Mas, felizmente para todos, sempre há aqueles que não perdem de vista as razões reais das coisas. E as reações de retornar a esses valores são concretas. Ainda em grau percentual pequeno, mas crescente.
Ao se levantar e limpar o pó do mito, as oportunidades econômicas começam a ficar visíveis.
Ganha-se margem ao olhar para a conta de energia, e descobrir as múltiplas possibilidades de redução de custo. Incluindo o mito desatualizado de que a energia fotovoltaica não se paga. As oportunidades incluem o aluguel de energia criada em fontes de energia limpa, com reduções expressivas.
Ganha-se margem ao olhar para a conta de água e esgoto, e quantificar as oportunidades de coleta e aproveitamento, de tratamento de água e esgoto, de uso de soluções que reduzem intrinsecamente o consumo, de adotar soluções de irrigação eficazes e de baixo consumo.
Ganha-se margem ao olhar para os gases de Efeito Estufa gerados na operação e pelos produtos, entendendo seus impactos e considerando soluções não apenas de compensação, mas de redução da geração. Projetos específicos existem, com forte impacto nesta redução. E, melhor ainda, projetos de reciclagem são substanciais fornecedores de créditos para essa conta.
Ganha-se margem ao olhar para os resíduos gerados, incluindo rejeição de produtos intermediários ou acabados, e economizar na fonte e nos custos de eliminação desses resíduos.
Em negócios do Agro, ganha-se produtividade expressiva ao usar tecnologias modernas e acessíveis. Ganha-se também em projetos que corrigem e previnem a erosão do solo. Ganha-se no uso dos agentes bioquímicos naturais.
Ao cuidar desses, ou parte desses aspectos, há um ganho de reputação, perante os parceiros de negócio, e perante o público consumidor, contribuindo para a estabilidade ou aumento dos volumes de vendas, com impacto óbvio nos resultados.
No campo social, o ganho vem de focar na retenção, na percepção de justiça de tratamento e remuneração, na preocupação efetiva com a qualidade de vida daqueles que colocam seu esforço a serviço do bem comum, com sua prevenção na saúde, com sua alimentação, com seu prazer e bem estar. É um ganho poderoso e definitivo. Muito além de concorrer a títulos efêmeros de Great Place to Work. O verdadeiro prêmio está na consciência de prover, e de observar os resultados. Com retenção e engajamento efetivo, a produtividade cresce de fato, e as perdas de processo se minimizam. Ganho perene de margem.
Para aqueles que responderão que isso é um enorme custo, recomendo olhar para os desperdícios de seu processo, e encontrar os ganhos que irão pagar pelo parágrafo acima. Ganho duplo, porque ainda sobra redução real e ganho de margem. Há casos reais a relatar.
A diversidade, por sua vez, vai muito além de mixar gêneros, raças, prefêrencias sexuais, inclusão. A excessiva obsessão em fazer e mostrar números nesse sentido perdem o valor intrínseco da diversidade, que é a combinação de várias tendência de formação e pensamento, de fontes de energia vital, de atitudes, e de modos de ver a vida em seu redor. E, pior ainda, cria tensões, marginaliza o assunto, alimenta o mito dos custos, despreza competências, e abandona completamente o elemento humano básico: o mérito. Tratar a diversidade com seriedade e ponderação, produz ganho significativo de produtividade, com impacto direto na margem.
Outro mito que coloca nuvens à frente da visão da gestão é o trato com as comunidades no em torno, ou com necessidades momentâneas ou recorrentes. Ao fornecer beneficência, muitos consideram garantido seu lugar no céu, e partem para as redes, para os ganhos de publicidade que podem vir daí. Enquanto que os legítimos gestores enxergam neste trato a oportunidade de gerar valor real e perene, compartilhado entre a empresa, seus colaboradores, e a formação de profissionais nessa comunidade. Não fazem alarde, mas o reconhecimento vem, e mais válido, quando referidos por terceiros ou pelas partes beneficiadas. Mais ganhos decorrentes da reputação.
Tanto no E como no S há muito mais a ganhar, econômicamente, muitos desses ganhos específicos ou mais expressivos em determinados segmentos.
Na Governança, sua falta pode levar a impactos letais. Gaps em Compliance e em Gestão de Riscos irão permitir desvios irrecuperáveis à reputação, quando não diretamente aos resultados. E a Governança não é polícia, mas primordialmente o controle automático de riscos nos processos de operação, administração, gestão. Uma vez estabelecidas as Diretrizes e implantadas as Práticas, a vida transcorre sem o susto de ‘sorria, você está sendo filmado’.
Em um dos aspectos mais maltratados da Governança, e largo espectro de empresas, está a falta de sistemas de gestão realmente integrados, tanto os ERPs como os BPMs.
Não são tantas as empresas de capturam devidamente todos os seus custos, e menos ainda as que os classificam acuradamente. Assim como com as receitas. Poucas as que chegam a um analítico preciso de seus resultados, o que ajudou, e o que atrapalhou. O que é recorrente, e o que foi acontecimento localizado. Diante da análise pobre, tomas decisões igualmente pobres e equivocadas.
Os bons sistemas, em si, são capazes de refletir todo e qualquer processo de trabalho, logicamente enquadrados nas leis fiscais e na lógica operacional. O que ocorre é que, ao implantar um sistema, as organizações sed deparam com gaps severos em seus processos e, na preguiça de enfrentar o problema, e na pressa de correr com a implantação e conter seus custos, forçam a configuração a entradas manuais, que destróem a integridade do processo como um todo. E pagam o resto da vida por isso. O ganhos de processos e sistemas bem configurados e implantados são expressivos e perenes, e impactam diretamente as margens, e seu controle. E, de quebra, a competitividade do negócio.
Assim como, em todos os segmentos humanos, os hábitos são preferencialmente iniciados pelo caminho mais fácil, mais imediato, mais à mão, para depois serem gradativamente corrigidos, assim será com o ESG. Todas as oportunidades de ganho aqui mencionadas, e mais muitas outras, serão progressivamente identificadas com aquelas agrupadas sob a sigla, e serão praticadas com ciência e aplicação. Irreversivelmente.
E o mundo se tornará ESG. Quem não for, ficará marginalizado, olhando pela janela, do lado de fora.
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